Natan Rufino | Áudio
O Anticristo Virá da Europa?
Daniel 9.26,27
26 Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já não estará; e O POVO de um PRÍNCIPE QUE HÁ DE VIR DESTRUIRÁ A CIDADE E O SANTUÁRIO, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas.
27 Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele.
Que cristão estudante de Escatologia nunca leu o texto acima ou que nunca o ouviu sendo citado como ponto crucial na identificação do futuro inimigo de Israel no tempo do fim? É crença evangélica comum aceitar esse texto como uma das indicações da identidade do Anticristo.
O Ungido mencionado no versículo 26, que seria morto, fala especificamente de Jesus Cristo, e, logo em seguida, ele acrescenta que um príncipe virá e menciona que o povo deste príncipe destruiria a cidade e o santuário dos judeus.
Seria possível gastar um bom tempo falando sobre alguns dos aspectos apresentados apenas nos dois versículos que lemos, mas a parte que me interessa para este texto que escrevo é aquele que diz: “O povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade [de Jerusalém] e o santuário”.
Acredito que todos concordariam em dizer que o povo mencionado por Daniel não seria o próprio povo judeu, pois tudo parece indicar que Daniel falava de um povo que atacaria o seu povo e não que seu próprio povo “se atacaria”. O povo mencionado não seria judeu, assim também o príncipe que virá não poderá ser judeu.
Desde quando Daniel proferiu essas palavras até o dia em que o santuário mencionado fora realmente destruído, passaram-se centenas de anos. A história nos conta que a destruição mencionada se deu apenas no ano 70 d.C. durante a liderança de Tito, imperador romano.
Exatamente por isso a “conclusão óbvia” por parte de inúmeros cristãos a respeito do texto de Daniel foi: “Se o príncipe que virá é o Anticristo previsto, e o povo que destruiria a cidade e o templo seria o povo do Anticristo, então, provavelmente o Anticristo será um líder romano, já que foram os romanos que destruíram o templo como profetizado por Daniel”.
Com base nesse raciocínio a igreja cristã assimilou e propagou a ideia de um futuro Anticristo italiano, dando até margem para romances cristãos e filmes evangélicos que expressam essa percepção.
Meu objetivo aqui não é ser controverso com qualquer um dos meus irmãos que pensam diferente, mas a meu ver tem algo de errado na interpretação que temos feito do texto de Daniel, e vou explicar porquê.
Primeiro, se vamos confiar nos dados históricos para desenvolver o raciocínio em torno desse texto, devemos manter consistente nossa consideração da história. Muitos até consideram o fato histórico da destruição do templo sob o período do domínio romano, mas não consideram as circunstâncias nas quais isso realmente aconteceu.
Muitos gostam de citar o historiador Flávio Josefo para confirmar seus argumentos quanto à destruição do templo por parte dos romanos. No entanto, é o próprio Flávio Josefo quem nos ajudará a decifrar esse enigma. Iossef ben Matitahu ha-Cohen, mais conhecido em português por Flávio Josefo, nasceu no ano 37 d.C. e faleceu por volta do ano 100 d.C. Nascido em Jerusalém, e de família sacerdotal, foi criado na melhor tradição judaica, recebendo boa educação para os padrões da época. Segundo sua autobiografia, seu conhecimento era minucioso quanto aos ensinamentos nos textos tradicionais da Torá; sendo que mais tarde, Josefo procurou por iniciativa própria, os ensinamentos dos saduceus, fariseus e essênios. Ainda jovem, chegou a ser um dos líderes do reduzido exército que se rebelou contra os invasores romanos e depois da derrota entregou-se aos romanos, caindo nas graças de Vespasiano – comandante das legiões romanas – ao profetizar que este se tornaria imperador. Como sua profecia se confirmou,